quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sessão dupla III

Dia de sessão dupla no CineArteUFF novamente.

Desta vez fui sozinha e caminhando até Icaraí, com a estranha e pacificadora sensação de que talvez Niterói esteja se tornando, pelo menos um pouco, a minha cidade. Sensação confirmada ao chegar a praia de Icaraí, e me deparar com a familiar visão do mar batendo na areia, que me remeteu direto ao meu canto solitário favorito em Caraguá, e encheu meu coração.


Não sei se estou num clima de TPM tardia, mas os dois filmes me tocaram muito e chorei nos dois (vantagens do cine solitário, a desvantagem é que sempre algum casalzinho se senta perto de mim).



Primeiro,
A Garota Ideal

O filme conta a historia de um rapaz solitário que se apaixona por uma boneca inflável. Olhando essa sinopse imaginei uma comedia meio pastelão, cheias de cenas patéticas em que um nerd panaca tenta comer a tal boneca inflável.

Mas não, o filme é um dos mais doces e meigos que já vi nos últimos tempos, o amor dele é completamente puro, acredita que ela é uma garota de verdade, cria uma historia para a “moça”, leva ela pra conhecer a família, em festas, etc e não a toca com conotação sexual: ela é uma moça de família, e ele respeita isso.

Se para ele ela é a moça perfeita já para a família e para a pequena comunidade em que vive é mais difícil aceitar o fato, boa parte da trama é sobre como as pessoas passam a aceitá-la porque quererem o bem dele, e de como ela se incorpora na vida

local, se tornando algo exterior a ele.

Além de tudo tem cenas impagáveis, de realmente rolar de rir, seja pela doçura, pelo inusitado ou pelo espanto.


Depois, Jean Charles


Bom, esse todo mundo já deve ter ouvido falar, neh?

A historia de Jean Charles de Menezes (interpretado por Selton Mello), mineiro imigrante brasileiro em Londres, que foi confundido com muçulmano e assassinado pela Scotland Yard no metrô londrino, durante uma operação antiterrorismo (como se o fato de ser muçulmano justificasse algo...).

A vida de uma pessoa comum marcada por um fato fora do comum: podia resultar num filme muito ruim, ou muito bom. Conseguiu ser o segundo, com certeza.

Jean Charles é apresentado como o tipo de protagonista que você consegue gostar, tem um pouco a coisa do herói sem nenhum caráter, um jeitinho malandro brasileiro, mas também é super gente boa, família, e ajuda a todos, de tal forma que você fica torcendo que ele não se estrepe em meio as suas falcatruas, que na verdade são apenas meios de se virar.

De coadjuvantes ficam seus primos, a mais nova que acabou de chegar do Brasil e faz, digamos, a segunda protagonista, o primo que é uma figuraça completa, cheio da gíria, estouradinho, mas que faz a melhor analise dos atentados terroristas apresenta no filme e no final dá uma tirada formidável nas autoridades britânicas, e mais uma prima, que fica por ali de coadjuvante dos coadjuvantes.

Mostra a comunidade brasileira em Londres, como vivem, em que trabalham, a relação de identificação apenas pelo fato de ser do mesmo pais. Tem muitos que são peões de obra, as mulheres que trabalham vendendo comida, as prostitutas, o cara que se deu bem, o garoto que sai do interior para se assumir...

O fantástico do filme é dar a esse figura cuja o nome já soa familiar uma vida e uma personalidade, ele não apareceu naquele metrô do nada, era uma pessoa que viveu como todos vivemos em nossos microcosmos, e que de repente foi englobado pelo cosmo maior, global. Serve de lembrete para a importância da política: mesmo que não nos importemos ela pode nos pegar.

E obviamente serve de lembrete para a injustiça cometida e nunca punida. Fato que atentar para isso e exigir justiça é a intenção do filme, ao fazê-lo contou-se uma bela historia, que certamente sensibilizará muitos, e estou torcendo para que surta efeito.

Só achei que faltou colocar no final a foto do proprio Jean Charles, então coloco eu: abaixo, fotografia do memorial a ele em Londres.

Um comentário:

  1. Ryan Gosling vale qualquer ingresso! [/comentáriomenininha]
    Vamos ao show d'Os Outros hoje?
    Beeijo!

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