sábado, 21 de setembro de 2013

Manhã de sábado

A luz da manhã enche o quarto, o cheiro do café chega da cozinha. O lençol já foi esticado e as coisas postas no lugar.

O erro e a ausência ainda marcam presença. 

Mas, de certa forma, quando o dia recomeça, desperta mais uma vez com todas as suas pequenas e infinitas possibilidades, fica difícil não se dar conta do caráter transitório que perpassa todas as coisas. Seja a dor, a alegria, o prazer, seja o dia que começa e termina, só para começar novamente, pondo em marcha o velho e o que está por vir.

A mente está desperta, o corpo disposto.

Me sirvo mais uma xícara de café e compreendo: vai passar.

domingo, 9 de junho de 2013

Pequenas pragas

Que chova de repente,
joguem areia no sorvete,
prenda alface no seu dente.

Que não cometa pecado, 
solte a sola do sapato,
diarreia  em pleno feriado.

Que o motorista não pare no ponto,
lhe mintam o desconto,
e você caia no conto.

Que em vez de beijo, abraço,
não resolva nem com despacho,
e o seu celular caia no vaso.

Que a depilação empelote,
acredite que não pode,
sua mãe lhe dê calote.

Que o namorado seja viado,
perca aquele trocado,
e mofe o seu baseado.

E que por fim você perceba
que não era eu o problema
e nem existe isso de sorte.  

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ausência

Eu tinha um texto.
Um retrato repleto de uma noite de chuva desesperançosa.
Cinco dias depois a chuva me encharcou, mas não fez diferença.
Por algum motivo a perspectiva mudou.
Entender para quê?

Já que está escrito, segue, uma novidade nem tão antiga no tempo, mas distante no ser.

31/03/11

Hoje não tem lua, hoje só tem chuva.
Tédio não é mais a palavra, o que há é só a ausência, uma ausência tremenda, ausência de mim mesma, ausência da vida que deveria ter sido e não pode ser, a vida que retorna a bater na minha porta, como quem diz não saber porque foi embora. Mas ela já não era minha aquele tempo, ela permanece ausente em mim mesma, não é possível retomar o sonho após despertar.
Não há mais lágrimas, elas sumiram junto com o sonho. Não há mais verdades, não há mais mentiras, elas seriam muito reais, muito vivas. Nessa ausência de tudo a única realidade é a ausência.

Oh beibe, isso não é a Matrix!
Não há pílula nenhuma, azul ou vermelha, que você possa me oferecer para alienar essa realidade latente.


(Tomei uma pilula verde, let it be.)

terça-feira, 1 de março de 2011

Liberdade às avessas

Tudo é permitido:
Beijar, morder, arranhar, gemer, falar, apertar.

Só o frio na barriga é proibido.



(03/09/10)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Saudade estranha, chata.
Não sei de quê.
Do que já vivi?
Do que ficou?
Do velho?
Do novo inventado em historias para dormir de gente pequena que já deveria ser grande?

Medo de que o velho não tenha espaço no novo real, esse que não é inventado, mas que vem e te leva, atropela, sem que se dê conta e possa pedir por socorro.
Medo de que tudo seja mais do mesmo.
Medo de que o mesmo não tenha lugar no novo.
Medo de o bom velho me abandonar de tal forma que só reste esse estranho novo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Partida.

Saber a hora de se retirar é um dom.
Reconhecer o fim da performance, fazer reverencia ao publico e sair de cena.
Não estender além, não esperar mais do que situação poderia lhe proporcionar, aproveitar o que foi bom e seguir em busca do novo ato.
Perceber quando já pôde aprender tudo que era possível naquele lugar e seguir em frente.
Não esperar o fim de noite monótono após a freneticidade. Nem sempre devesse esperar o sol nascer, as vezes melhor é ir embora no escuro, antes do inevitável declínio.
Não há porque prorrogar o que já rendeu o que tinha de dar.

Basta dizer boa noite, e tchau.


Escrito em 17 de junho de 2010.

sábado, 18 de setembro de 2010

Cof-cof-cof

A tosse vem, contínua, áspera.
O nariz pinica, escorre.
Gripe, doença, excesso de excesso.
Muito de desleixo, pouco de cuidado.
-Você está se alimentando bem, filha?
-Tôôô, mãe.

Dois reais na conta.
-Moço, qual é o melhor xarope para a tosse que você tem pelo mesmo preço?
-Esse aqui! Você vai gostar, ele é ruim para a tosse.
-Hein??Ha-ha, entendi, boa essa, hein! Passa no crédito, por favor.

Xarope: o doce artificial tentando dizer que a vida é boa, somente para encobrir o real sabor amargo do fim que durará até a manhã seguinte.

Mas além da cereja falsificada, o pior mesmo é ser um dos "casos raros" em que um componente da formula do xarope causa uma reação alérgica caracterizada por erupções acneformes.

Isso sim é maneiro.
Isso sim me faz me sentir especial.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Um pouquinho sobre trabalho de campo.

Há alguns anos levei minha irmã a uma dessas feiras para fans de anime e coisas japonesas, daquelas cheias de gente fantasiada (e estranha).
Eu já estava careca de ver os mangás dela espalhados pela casa, e de saber que aquilo se lê folheando de trás para frente. Sendo assim, encostei em um stand e comecei a folhear alguns... do modo ocidental!
E, claro, o cara da banquinha me olhou com todo o desprezo de quem vê uma noob que certamente não faz a menor idéia de como foi parar ali.

E o trabalho de campo é exatamente assim: você sabe tudo na teoria, sabe como fazer isso ou aquilo, o que é mortalmente errado fazer, mas na hora entra no automático e faz como sempre fez a vida toda.

Ah se fosse facil desintrojetar a cultura!



(e amanhã eu volto ao campo, para a minha alegria e desespero)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sobre santos e feijão.

Olhando para o Santo Antônio gigante sobre a cidade minha vó suspira:

"Oh meu Santo Antônio, arruma um marido rico pra minha neta, que nem um feijão essa menina sabe fazê!"

...

Abro o armário da cozinha:
Queijo ralado, chá, "erba" mate, dois pacotes de café: o bom e o ruim, duas garrafas de vinho: o bom e o ruim, uma lata de cappuccino vencida, sopa Vono, meio pacote de macarrão ("mãe! Ontem fiz macarrão pela primeira vez na vida!") e alguns temperos.

...

"Oh meu Santo Antônio, me arruma um marido rico, que nem um feijão eu sei fazê!"


(Vó, o Santo Antônio anda meio carregado, por via das duvidas vamô reza também pro santo protetor dos cientistas sociais ateus pra me arrumar um mestrado com bolsa?)