sábado, 6 de fevereiro de 2010

Maduras infantilidades.

Esses dias tive uma conversa muito estranha com uma menina de 4 anos, ela me dizia “quando eu era criança...” e eu tentava explicar pra ela que depois de adulto a gente ainda pode ter um apontador de tartaruguinha, ou uma joaninha de pelúcia, que ficar adulto não é deixar de ser criança.

É isso que eu quero nesses meus 22 anos recém completados, maduridade pra decidir, sem deixar que o serio vire feio, tendo coragem para fazer o que eu quero, e perceber que não devo satisfações pra ninguém alem das pessoas para quem eu decidi dar satisfações. Que em ultimo caso eu posso simplesmente bancar a menina maluca que sai correndo fugida pelas vielas do centro, de vestidinho, all star vermelho e asinhas de fadas, somente porque ficou de saco cheio, deu vontade, porque podia, ou porque veio uma musica na cabeça.

E foda-se.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Diario de uma Viagem

Ir de onibus passar um fim de semana em Salvador?
Pala de vagabundo na certa.
Engraçado que só fomos nos dar conta disso no meio do caminho.
Mas convenhamos, não havia nada de mais interessante pra fazer, e pala de vagabundo por pala de vagabundo eu já dou todo dia acordando depois do almoço.
Sendo assim, partiu o bonde, Boladão de Amor.

Ao que parece estavamos indo para o tal Forum Social Mundial Tematico, mas pelo menos uma coisa eu aprendi com a experiencia: essa parada é toda desorganizada, mais da metade das coisas não vale a pena, e no final das contas eu aproveitaria muito mais conhecendo Salvador.

Depois de uma viagem que partiu atrasada e lerdeou por 35 horas até Salvador, regada a cachacinha artesanal mais do que fantastica, comprada de um tio muito firmeza no Espirito Santo, chegamos ao alojamento, também conhecido como “casa” pelo periodo que ficamos por lá, pelas bandas da favela do Garcia.

Partiu Pelourinho direto, depois de um disputadissimo banho no banheiro nojento, matar a fome e o desejo de acaraje na primeira Baiana mal humorada que encontramos. O Pelourinho me lembrou as ruazinhas de Parati, só que regadas a axé e batuque estilo Olodum. Os pedintes de Salvador são os mais insistentes que já vi, e nesse ponto começamos a perceber que a cidade lá é um tanto perigosa, ainda mais pra quem dá pala extrema de turista. Entramos num show de axé-pagode-samba que mandou muito, e de lá surgiu um negão que arrastou o bonde todo pra uma boate afro, lugar maneiro, noite caída, partiu caminha que o dia seguinte seria longo.

Acordar cedinho e partir pra praia, Stella Mares foi a primeira parada, linda demais, e razoavelmente vazia, precinhos camaradas e a pior Boehmia de todo o universo. Logico que esqueci o protetor solar e logo fiquei da cor do sashimi de salmão. Caroninha na volta. Seguimos pro Mercado Modelo, bem lugar de turista, vale a pena ir, mas pra gastar no máximo uma horinha, e almoçar a maravilhosa e alucinógena moqueca de peixe (não tivemos peito pra provar arraia), vendo os capoeiristas se apresentarem.
Alguma coisa nessa moqueca, ou na gente mesmo, nos deixou muito feliz e retardadas, do tipo que ri de tudo e se amarra em qualquer coisa, a verdade é que estávamos puramente felizes e pronto.
Tinham recomendado o por-do-sol no Museu de Arte Moderna, então seguimos para lá, haribôzando geral, nesse ponto nos perguntávamos porque levar tantas roupas na mala se no final das contas passavamos o dia todo de biquine e canga. Sorte das sortes escolhemos logo o dia que tinha concerto de jazz no museu logo depois do por-do-sol, precinho bacana, só seria melhor se eu não estive sem minha carteirinha de estudante. Lugar maravilhoso, vista perfeita, mojitos a R$ 5,00 (!!!), musica boa, porem demorou a animar, decidimos ir embora, afinal o dia tinha sido longo e a noite ainda só estava começando, quando começou um bom sambinha e ficamos mais um pouco. Surpresa das surpresas, pra acabar com o aperto no meu coração de que não fosse acontecer, “oi, blábláblá, bom te ver, até mais”, bom, acho que é isso, então tá, partiu.

De volta a “casa” o dilema era para onde ir, o Pelourinho não tinha encantado muito a gente, estavamos visando um tal de Rio Vermelho, que dizeram ser o point local. Chegamos lá uma pracinha, varios bares, pouca musica. Encontramos uma roda de samba boazona de um grupo de amigos que se reunem ali todo ultimo sabado do mês, e nos acabamos até os músicos já acabados de tocar desde as seis da tarde pararem. Sim, um dos baianos me sacaneou dizendo que tem de ter samba no pé. Eu não tenho samba no pé mais me divirto e pronto, oras. Rodamos, rodamos, nada convidativo. Passamos na porta de uma boate e praticamente correram atrás de nós oferecendo entrada grátis, com o plus de drinks gigantescos serem baratinhos, demorô. Desabafo era o nome do local, que poderia se chamar apenas Desaba, já que a musica parava toda hora, o barman quase incendiou o bar e não tinha meia duzia além de nós. Mas como não precisamos de muito pra fazer a festa corremos ao DJ, pedimos um funk e nos acabamos de dançar até percebemos que o lugar tinha enchido. Salvamos a noite de uma boate falida e fomos embora. De volta a praça baixou um espirito Cantareira nos individuos, e tipo, nada contra ir de onibus passar o fim de semana em Salvador, mas fazer isso pra ficar na Cantareira é demais pra mim. Surge três caras, falando em espanhol com a gente, perguntando de sabiamos onde ficava um lugar que era borracharia de dia e boate a noite (?), mas não estendiamos bulhufas do que diziam, já estavamos nos perguntando se estavamos doidonas demais pra entender o espanhol da figura até que “na moral, que lingua você tá falando?” “italiano!!” “aaah!!”. Voltamos pro Garcia, comemos um pão com ovo e queijo (que vinha com alface e milho, alguem me explica?) e descobrimos no alojamento o que tinhamos rodado a noite toda a procura: uma roda de samba mega animada e alto astral, que me fez adiar o já desejado soninho mais um pouco, fui pra “cama” com o dia amanhecendo na janela de vista incrivel da nossa sala.

Acordamos cedinho, mas ninguem teve pique de levantar, lerdeamos na cama mais um tempo, o que tornou possivel a segunda surpresa (…).
A praia do dia seria Itapoan, bem mais cheia do que a do dia anterior, mas também muito bonita. Comemos uma deliciosa carne de sol com aipim frito e aquela farofinha, e partimos pra sesta na areia.

“Passar uma tarde em Itapuan
Ao sol que arde em Itapuan
Ouvindo o mar de Itapuan
Falar de amor em Itapuan...”


Por-do-sol perfeito, com direito a aplausos e demais harobôzagens.
Na volta a dificuldade de encontrar o ponto de onibus nos fez desembocar no acarajé da Cira, simplesmente o melhor de todos, fresquinho, com a massa que desmancha na boca.

Por algum motivo pouco explicável nessa noite voltei ao decepcionante Rio Vermelho, com o agravante de ter comigo somente 10 reais, acho que foi medo de perder uma noitada que poderia ser A Noitada de Salvador, vai saber... Voltei rapidinho, para encerrar a noite num buteco ali perto e comer o já de praxe pão com ovo (dessa vez sem milho e alface, e com muito queijo).
Chegamos a conclusão que independente do que dizem Salvador é um lugar pra se curtir de dia, porque fazer noitada ali é tenso.

Saudades que se matam pela metade, cabeça que vira do avesso, como só as viagens distantes podem fazer, é muito facil manter o pés no chão quando se está no proprio chão, nessas terras de ninguém tudo parece tão simples, e o bom senso é o primeiro abandonar o barco.

Manhã do ultimo dia, ir pra praia, depois passeio fotográfico no Pelô. Invertemos os planos, primeiro Pelô, depois praia. Atrasamos, o bonde saiu pesado, fomos no Mercado Modelo de novo, perdemos um longo tempo lá pra conseguir juntar todo mundo de novo, uma batalha pra conseguir um consenso de onde comer, por mim já iriamos direto pra praia, comemos uma comidinha mais ou menos pelo centro, desencanamos do Pelô e de metade do bonde e partimos pra praia da Barra. Foi o melhor mergulho de toda a viagem, a praia era mais suja do que as outras, mas o mar era perfeito, sem banco de areia, e com ondas na medida certa (principalmente na medida certa pra me dar varios rolas). Esqueci de comentar, mas o mar de Salvador é mega salgado, meus olhos ficaram vermelhos de uma forma que nem todos os baseados do mundo conseguiriam, e nadei tanto até que tive cãibra nas duas panturrilhas, e me toquei que já tinha dado de mar. Fim de tarde maravilhoso, e otima despedida para quem se conheceu no Ano Novo no mar de Copacabana.

Chegou a hora de ir embora, coração apertado, o onibus atrasado, correndo boato de que só partiria no dia seguinte, eu fazendo figas para isso, mas não teve jeito, todas as coisas boas tem um fim.
Eu vou sentir saudades.



E cá estou eu de volta, tentando botar novamente os pés no chão.